Linguagem e medo global


Na era vitoriana, as calças não podiam ser mencionadas na presença de uma senhorita.
Hoje, não fica bem dizer certas coisas na presença da opinião pública.
O capitalismo ostenta o nome artístico de economia de mercado, o imperialismo chama-se globalização.
Os pobres chamam-se carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos.
A expulsão das crianças pobres do sistema educativo é conhecida sob o nome de deserção escolar.
O direito do patrão a despedir o operário sem indemnização nem explicação chama-se flexibilização do mercado laboral.
A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria.
O saqueio dos fundos públicos pelos políticos corruptos responde pelo nome de enriquecimento ilícito.
Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos automóveis. Onde se diz longa e penosa enfermidade deve-se ler cancro ou SIDA.Doença repentina significa enfarte, nunca se diz morte e sim desaparecimento físico.
Os mortos em batalha são baixas, e as de civis que a acompanham são danos colaterais.

Comments:
Na generalidade não gosto deste artigo ainda que concorde que o 'politicamente correto' contem um enorme potencial de hipocrisia.
Uma precisão: uma minoria não se define pela quantidade numérica. Define-se pelo poder que detem. Daí as mulheres serem minoria. Na África do Sul, por exemplo, durante o regime de apartheid, a maioria numérica era de negros mas estes eram a minoria porque quem detinha o poder era o outro grupo (quantitativamente minoritário).
 
O final do artigo é muito mais certeiro, na minha opinião:

O medo global

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.

Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.

A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.

Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas.

É o tempo do medo.

Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.
 

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